quinta-feira, 25 de março de 2010

Mafe Needs Silence - Parte I

Olhando para o teto do meu quarto ouvi a voz irritante da Cindy Lauper cantando "Girls Just Wanna Have Fun".
"Por que mesmo eu coloquei a Cindy Lauper pra me despertar?" - pensei, já me levantando e encarando aquele cabelo espigado e pra cima com o qual e sempre levanto - aquele que parece mais uma bola de feno absurdamente escura.
Sabe, às vezes eu desejo profundamente que eu nunca tivesse desejado cabelo enrolado na minha vida! Sim, porque ele era liso, dai eu acho que fiz tanto que ele enrolou e agora ele é esse ninho de mafagafos que eu tento arrumar. Bom, depois de desejar que eu nunca tivesse desejado eu lembro que desejar alguma coisa já me fez ficar assim, e o que já tá cagado... Bom, melhor deixar sem desejar mais nada por um tempinho.
Ok, ok... QUEM LIGA PRO MEU CABELO? Só eu mesma, gente! (Ok, e provavelmente a Júlia - a menina que mora comigo no apartamente - que todo dia de manhã quando tromba comigo na porta do banheiro disfarça o susto que toma com uma espreguiçada)
Enfim. Desliguei aquela louca cantando bem na parte do refrão e mudei o despertador pra qualquer coisa irritante do próprio celular mesmo. Provavelmente eu nunca mais me divertiria com aquela música quando tocasse; tudo o que eu pensava pra acordar nos últimos três dias era como seria esganar a Cindy Lauper com uma gravata feia toda vez que começava o "The phone rings"
Olhei para a hora pela primeira vez aquela manhã e reparei que a Cindy já estava cantando a pelo menos uma hora e também que eu estava absolutamente atrasada. Corri, escovei os dentes de qualquer jeito, peguei a primeira roupa que achei em cima da pilha do meu quarto e corri para o carro. O Cadu ia me matar. Quer dizer, eu JÁ estava mais de meia hora atrasada... Passei no Starbucks e comprei um café e uns brownies só pra dar uma acalmada na fera.
_Muito bem, Maria Fernanda. - ele disse logo que entrou no carro com aquela acidez tão... tão... tão Cadu. - Você, além de me queimar na faculdade com tanto atraso, vai me gerar uma gastrite, uma úlcera, uma noite sem sono, sei lá o que com esse café todo!
_Ai Caduzinho, amor da minha vida, o melhor amigo do mundo, me perdoa vai! - eu disse entregando os brownies também para ele - A Cindy parou de fazer efeito!
_Também, aquela mulher pra acordar era uó, Mafe! - ele olhou dentro da embalagem que eu tinha entregue e disse: - Brownie é jogar baixo, flor!
_Eu sei... - disse, sorrindo por ter sido perdoada mais uma vez pelo meu atraso.
O Cadu é o cara mais perfeccionista que eu conheço... E perfeito também, claro: um metro e oitenta e cinco, lindo, cabelo muito escuro, olhos cor de mel, engraçado, companheiro, venenoso quando necessário e claro, como todo homem perfeito, gay.
_Querida, me conta uma coisa... Que lixo é esse que você tá vestindo? - ele perguntou, desprezando meu vestido amarrotado. - Você não tinha uma entrevista ou algo assim?
_PUTA QUE PARIU! A ENTREVISTA! - gritei, girando o volante do carro e saindo do caminho da faculdade e pegando o caminho pro shopping.
_Ai minha Santa Izildinha do Agreste, mais um dia sem faculdade! - ele disse rindo.
_Se você quiser te deixo lá, Ca... É que eu esqueci que eu tinha que comprar uma roupa nova, porque eu não tenho nada que sirva pra uma entrevista em casa, e...
_MAGINA que eu vou perder umas compras por uma aula com o Villas! Faz-me rir, Maria Antonieta.
Ah é, outra mania do Cadu é de sempre trocar o "Fernanda" do meu nome por qualquer outro nome que lhe agrade, que seja ridículo ou que apareça na história. "Maria Louca" é o que ele têm usado com mais frequência esses tempos.
_Então vambora, que hoje eu tenho que estar uma diva absoluta naquela entrevista!


~


_FILHODAPUTA,MALDITO,CORNO! - eu acho que nunca amaldiçoei tanto alguém enquanto descia do carro igual eu estava amaldiçoando aquele cara. Sério, bater no meu carro enquanto eu estava indo pra uma entrevista - e enquanto eu estava atrasada pra entrevista - era crueldade. - Você não me viu não, amigo?
_Você que parece não ter me visto! Veio voando que nem uma louca, não deu seta... Você queria que eu adivinhasse?
_Olha, eu queria que você não tivesse batido no meu carro...
_Então isso faz dois de nós.
Sai resmungando e amaldiçoando o mundo pelo acontecido e pegando o telefone, enquanto o Cadu ficava tentando me acalmar. A minha sorte é que o cara que ia me entrevistar tinha me passado um telefone para que eu avisasse caso ocorresse qualquer imprevisto. Bom, provavelmente aquilo se encaixava na parte de 'imprevistos'. Liguei uma vez e o telefone deu ocupado. Saco. Se eu não conseguisse avisar, aí sim tudo estaria perdido de uma vez. Tentei ligar mais uma vez e voltei para o lugar do acidente. O 'cara' que tinha batido em mim estava no celular também, provavelmente chamando o seguro - ou algo do estilo; dinheiro dava pra ver que ele tinha.
Meu celular tocou e por sorte (ou por destino, não sei MESMO) era o Leo (o cara que ia me entrevistar). Atendi, fazendo um sinal com a mão para o cara que tinha batido no meu carro (ele estava tentando falar comigo enquanto estava no celular)
_Alo?
_Alo? - disseram ao mesmo tempo o Léo e o cara que estava na minha frente.
_Léo, oi, eu te liguei porque aconteceu um imprevisto e eu não vou conseguir chegar, bati o carro, e...
_Maria Fernanda?
_Sim, sou eu...
Quando olhei pra frente vi que o cara que tinha batido no meu carro estava com o celular meio longe da orelha, me olhando e até quase rindo. Olhei de volta pra ele e perguntei no telefone
_Léo, você tá ai ainda?
Ele colocou o telefone de volta na orelha e disse:
_Estou bem aqui.
Se aquele era um momento tenso ou se era um momento engraçado eu não sei, mas optei por rir da situação... Quer dizer, quais eram minhas opções? Eu tinha acabado de perder meu emprego que eu nem tinha conseguido ganhar ainda! Quer dizer, me contratar? Depois de bater no carro dele? Claro, ok... Desliguei o celular e estendi a mão para ele, parando pela primeira vez para reparar em seu rosto. Ele era bonito, com olhos claros, cabelos castanhos e uma barba levemente mal-feita, mas que não aparentava desleixo, e sim estilo.
_Bom, acho que vamos nos atrasar para a entrevista.
_É, pelo jeito ela vai ter que ser adiada. - E para meu alívio ele também riu. - Que coincidência, han?
_Nossa podia ter batido em qualquer pessoa do mundo e fui bater bem em quem estava pra me dar um emprego? - eu disse, ainda rindo. - É, acho que hoje é meu dia de azar.

[continua...]

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